opinião

A solução que nada soluciona e deixa tudo como está



Pois é, em breve a paz social e o espírito irreverente dos cariocas, e por extensão dos fluminenses, estarão de volta na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e no belo Estado do qual a Cidade Maravilhosa é capital. E tudo graças ao discernimento e à visão de estadista do senhor Michel Temer e seu decreto de intervenção na área de segurança daquele Estado.

E digo mais, logo o Brasil inteiro estará pacificado com a efetivação do anunciado Ministério Extraordinário da Segurança Pública ou algo equivalente. E todos os nossos atuais problemas nessa área se reduzirão à poeira histórica. E todos seremos, para sempre, imensamente felizes. SQN (acho que não é preciso traduzir, pois todo mundo sabe o que isso significa).

Políticas públicas efetivas, direcionadas às áreas mais conflagradas e às populações vitimadas, direta ou indiretamente, pela violência geral e por aquelas decorrentes de ações relacionadas ao tráfico de drogas? Nem pensar!

Programas educacionais voltados ao resgate da dignidade que milhares e milhares de crianças perdem antes mesmo de chegarem a este mundo não são pensados. Pensá-los para quê? Educação de qualidade, com escolas e equipamentos afins ajustados à modernidade, de forma que se tornem atrativos e não repulsivos aos jovens e professores remunerados decentemente são coisas fora de qualquer cogitação. Por que governantes pensariam nisso?

Saúde efetivamente acessível a todos, saneamento básico, prática de atividades esportivas, atividades lúdicas e culturais, espaços públicos voltados à convivência e ao lazer são possibilidades fora de qualquer cogitação.

Um sistema penitenciário decente, com estabelecimentos prisionais pequenos e médios, que contemple a diversidade de penas em razão da diversidade dos delitos, que separe marginais "tatuados", irrecuperáveis para o convívio social, dos pequenos delinquentes e que seja capaz de produzir a desde sempre sonhada ressocialização? Sem possibilidades.

Policiais (militares e polícia judiciária) bem treinados, bem remunerados e incentivados a que façam largo uso da inteligência no trabalho preventivo e nas investigações? Não, para quê?

Ampla discussão com a sociedade para que se chegue a uma revisão da política de drogas vigorante no país, de maneira que, à feição do que ocorre em boa parte dos países civilizados, a questão das drogas seja vista mais como uma questão de saúde pública e menos uma questão policial, sequer se cogita. Para que fazê-lo se as coisas, como estão, funcionam adequadamente para os barões do tráfico e sabe-se lá mais para quem?

E assim, entre um e outro espetáculo de pirotecnia, vamos empurrando com a barriga nossos problemas e nossos dramas sociais. Por que, como está, há preservação de interesses seculares de poder e de dominação. Mudar para que, se, como sempre, está dando certa para a minoria?


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